CARTA DA ARTICULAÇÃO REGIONAL DE GUARAPUAVA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO

No dia 25 de outubro de 2012, no Colégio Estadual do Campo Maria de Jesus Pacheco Guimarães, distrito do Guará, município de Guarapuava/PR, estiveram reunidos em torno de 300 educadores e educadoras, dirigentes e lideranças de vinte e quatro municípios da região, representando movimentos sociais; sindicatos de trabalhadores rurais; povos tradicionais, entre eles, indígenas, quilombolas, faxinalenses ;  educadores e educandos da Educação Básica e do Ensino Superior;  instituições ligadas a trabalhadores do campo  para refletir, discutir e posicionar-se a respeito da realidade do campo e dos processos educativos que lá acontecem. Preocupados diante da atual situação, os participantes ratificam o Manifesto do Fórum Nacional de Educação do Campo (2012) e apresentam as seguintes proposições:

1)      Reconhecimento da Articulação Paranaense por uma Educação do Campo como coletivo de representação dos povos do campo nas questões da educação, para analisar, propor, acompanhar e avaliar as políticas públicas;

2)       Definição de políticas públicas que assegurem o acesso universal a uma educação de qualidade, em todos os níveis de ensino, que atenda às necessidades dos sujeitos que vivem no campo, garantindo, inclusive, o direito de acesso no local onde vivem, com transporte intra-campo quando necessário (também no contra turno), bem como a melhoria das estradas para a garantia da segurança do transporte;

3)       Ampliação das políticas de Educação do Campo contemplando as políticas de lazer, cultura, tecnologia, saúde, gênero, cultura camponesa, entre outros;

4)       Reconhecimento do protagonismo dos movimentos/organizações sociais/associações comunitárias e sindicais da classe trabalhadora do campo na proposição e implementação das políticas públicas municipais e estaduais e na composição das equipes das secretarias/órgãos/coordenações municipais, estaduais e nacional da Educação do Campo;

5)      Construção de práticas pedagógicas em espaços educativos do campo na perspectiva da emancipação humana;

6)       Construção de novas escolas no campo e reabertura daquelas que foram fechadas nos últimos anos;

7)       Melhoria das estruturas físicas das escolas do campo, e a garantia da qualidade da merenda especialmente com produtos vindos do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e PAA (Programa de aquisição de alimentos), primando por alimentos de qualidade produzidos agroecologicamente;

8)       Garantia de café da manhã, almoço e janta nas escolas do campo, sempre que se fizer necessário, para  a melhoria do processo educativo e qualidade de vida dos sujeitos envolvidos no processo;

9)       Garantia de Equipes Multidisciplinares (assistente social, psicólogo, fonoaudióloga, entre outros) que atendam as escolas do campo; atendimento no campo aos educandos com necessidades especiais;

10)   Garantia de bibliotecas, quadras esportivas, laboratórios adequados e materiais necessários para realizar as atividades do processo de aprendizagem nas escolas do campo, bem como, espaços de lazer para as comunidades;

11)   Acesso a tecnologias de qualidade, como internet, telefone e outros para ampliar o acesso ao conhecimento e à comunicação;

12)   Garantia de processos de Educação de Jovens e Adultos para todos os níveis de escolaridade no campo;

13)   Elaboração de uma política de Educação Infantil do Campo;

14)   Garantia de formação continuada/permanente para atuar em processos educativos no campo, por meio de instituições públicas e com financiamento garantido, de forma presencial;

15)   Realização de concursos públicos para atender a especificidade do campo, com critérios claros quanto ao perfil dos educadores e educadoras, com regime de dedicação exclusiva, com auxílio-transporte e gratificação especial;

16)   Articulação com as instituições de fomento de pesquisa às Universidades para o desenvolvimento de projetos de pesquisa, ensino e extensão na Educação do Campo;

17)   Criação de cursos técnicos que atendam as necessidades do campo;

18)   Garantia de cursos de graduação e pós-graduação em Educação do Campo, gratuitos e presenciais, em Universidades públicas, bem como reestruturação das propostas pedagógicas das licenciaturas em andamento para atender as especificidades do campo;

19)   Elaboração e construção de propostas pedagógicas e materiais voltados às especificidades do campo, bem como adequação dos calendários;

20)   Construção de um centro de alternância na Unicentro para realização de cursos de formação inicial, continuada, pós-graduação e extensão que atendam à especificidade do campo;

21)   Apoio dos gestores da política pública de Educação do Campo aos processos de formação e capacitação  realizados por instituições, movimentos e organizações do campo.

22)   Garantia de políticas públicas que atendam às necessidades específicas de cada povo do campo;

23)  Promover a organização coletiva dos povos do campo para pautar políticas públicas;

24)  Reconhecimento das Casas Familiares Rurais, das escolas do campo vinculadas aos Movimentos Sociais e os processos de Formação e Educação Popular na política pública de Educação do Campo.

Acreditamos que é nossa obrigação como classe trabalhadora do campo, educadores, pesquisadores, estudantes e integrantes de instituições/movimentos sociais e sindicatos da classe trabalhadora, posicionarmo-nos diante da situação, para que não tenhamos a médio e longo prazo a exclusão dos povos do campo dos processos educativos ou a precarização ainda maior dos mesmos.

Assinam o documento os participantes do I Seminário Regional de Educação do Campo. Carta aprovada por aclamação na plenária final do Seminário.

Primavera de 2012.

Guará/Guarapuava, 25 de outubro de 2012.