Usado pela primeira vez em 1887 pelo psiquiatra britânico John Langdown Down (1828-1896), famoso por ter feito o primeiro relato científico sobre a síndrome de Down, o termo “Idiot Savants”, muitas vezes abreviado apenas para “Savants”, devido ao fato da tradução “Idiota Sábio” ser muito passível de generalizações abusivas, servia para designar indivíduos, que apesar de terem algum tipo de déficit mental, que os torna incapacitados de realizar sozinhos tarefas comuns do dia-a-dia, tinham habilidades extraordinárias ligadas à memória.
Assim como você nunca se esquece de andar de bicicleta, essas pessoas nunca esquecem algumas coisas que fazem devido a síndrome de Savantismo que os afeta. Geralmente, a maioria dos savants são autistas e pessoas que tiveram algum dano cerebral ou nasceram com retardo mental, e demonstram capacidades ainda enigmáticas para a ciência. Apesar do avanço na psicologia, sabe se muito pouco sobre o que realmente gera essas habilidades nos portadores dessa síndrome.
Dentre vários casos existentes no mundo, alguns ficaram famosos e ganharam até filmes, como o de Kim Peek, inspiração para o filme Rain man de 1988, que conseguia ler um livro de 300 páginas em 40 minutos, e memorizou mais de 12 mil livros, até sua morte em 2009, e sabia dizer exatamente as mesmas palavras de todos eles, e também era capaz de descrever os números de rodovias, CEPS e códigos DDD de qualquer localidade dos EUA, e identificar o dia da semana de qualquer data em questão de segundos, porém dependia de seus pais para fazer necessidades básicas do dia-a-dia, devido a sua incapacidade mental.
Outro caso intrigante, que inspirou o filme ganhador do Oscar, Uma Mente Brilhante de 2001, foi o de John Nash, que sofria de esquizofrenia, e apesar disso fez contribuições excepcionais na área da matemática com equações diferenciais parciais, geometria diferencial e teoria dos jogos. Acabou falecendo em 2015, mas deixou um legado de contribuições importantes para os futuros matemáticos.
Existem vários outros casos de savants que deixam quem conhece suas histórias de boca aberta, como o de Leslie Lemke, que aos 14 anos, após ouvir o concerto nº 1 para piano de Tchaikovsky em um programa de televisão, conseguiu tocar perfeitamente tal melodia, apesar do fato de que Lemke jamais tinha tido aula de piano, ser mentalmente incapacitado, tem paralisia cerebral, e uma doença de nascença fez com que médicos removessem seus olhos, sendo atualmente conhecido como Jukebox Man, pois toca qualquer música com perfeição após ouvi-la apenas uma única vez. Já Ellen, que compartilha da mesma capacidade de Lemke, consegue ainda dizer exatamente que horas são sem checar o relógio com alguém, e de se mover usando um barulho que faz com a boca, sem bater em objetos, talentos extraordinários devido ao fato de ser cega e autista. Existe também o caso dos gêmeos com dano cerebral congênito, que conseguem fazer contas extremamente difíceis, envolvendo mais de 12 dígitos em segundos, pois estabelecem padrões entre os números primos. Tem o caso do autista Stephen Wiltshire que consegue desenhar paisagens complexas que viu apenas uma única vez, o caso do também autista Daniel Tammet que aprendeu islandês em uma semana, idioma este que até mesmo os islandeses consideram difícil, e consegue falar outros dez idiomas, e o caso de Jason que após receber vários chutes em sua cabeça em um assalto, adquiriu a habilidade de enxergar matemática em tudo.
Atualmente estudos estão envolvendo o conceito de que todos podemos ter um savant dentro de nós, porém ele está numa área do cérebro inconsciente, esperando para ser acordado ou permanecerá lá até o fim. Pesquisas estão sendo feitas e quem sabe algum dia as pessoas terão uma memória incrível, alguns pensam que seria uma era em que todos seriam iguais, mas não percebem que nós já somos iguais, e o que nos difere é a capacidade de pensar individualmente e moldar o mundo ao redor do nosso jeito.
Autor do texto: Sanderson Carlos Ribeiro
Referências:
MESQUITA, Edgar Martins. Idiots Savants: Um paradoxo real ou ilusório? Disponível em: <http://www.psicologia.pt/artigos/ver_artigo.php?codigo=A0386>. Acesso em: 11 jun. 2017.
TEIXEIRA, Rafael. 11 casos de savants, os gênios que a ciência não explica. Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/ciencia/11-casos-incriveis-de-savants-os-genios-que-a-ciencia-nao-explica/>. Acesso em: 11 jun. 2017.
LOPES, Reinaldo José. A inteligência sem fim dos autistas savants. Disponível em: <http://super.abril.com.br/ciencia/os-maiores-cerebros-do-mundo/>. Acesso em: 11 jun. 2017.