Adaptado por: Julia Bianek

A tragédia provocada pelo rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, completou no último domingo (05/11/2017) dois anos. O desastre apontado como maior do mundo envolvendo rejeitos de mineração, feriu cruelmente o direito de acesso a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Direito este, assegurado constitucionalmente, e que representa a extensão do direito à vida!

O rompimento da barragem de Fundão gerou uma onda de lama tão devastadora e poluente que, durante sua trajetória até o mar do Espírito Santo, dizimou o município de Bento Gonçalves deixando centenas de pessoas desabrigadas. Contaminou água e solo com o resíduo tóxico, cuja complexidade não está apenas na composição, mas também no desconhecimento dos efeitos que poderão ser causados por seus precursores. Soterrou nascentes, contaminou importantes rios, como o rio do Carmo e o Rio Doce, prejudicou o abastecimento de várias cidades e comprometeu o abastecimento futuro. Destruiu florestas inteiras, algumas delas em áreas de preservação permanente, afetando biomas únicos.   Pessoas que eram direta e indiretamente subsidiadas pelos recursos naturais do local tiveram sua fonte de sustento inutilizada, o que afetou não somente a sua qualidade de vida mas também fez com que se perdesse parte de sua própria história e identidade.

Passados dois anos da maior tragédia ambiental da história do Brasil o cenário ainda é desolador.

A qualidade da água dos rios afetados está longe de voltar ao normal, segundo a Associação SOS Mata Atlântica, em 72% das análises, a qualidade é ruim e em 16%, péssimo. O rejeito estacionado às margens e no leito do rio é resuspenso nas águas através da ação do vento ou chuvas. Em algumas áreas a camada de rejeito, abaixo do nível d’água, chega a ter mais de 3 metros de profundidade, uma eventual retirada pode causar a reintrodução de complexos tóxicos e metálicos à natureza, podendo causar um impacto tão negativo quanto a sua estagnação no local.

A biodiversidade aquática ainda vem sendo severamente assolada, recuperando-se a curtos passos. Segundo pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa, antes da tragédia o Rio Doce contava com aproximadamente 80 espécies de peixes nativas e 26 espécies exóticas. Atualmente, foram coletadas 36 espécies ao total, sendo que 14 delas eram espécies exóticas. A medida em que, espécies exóticas vem se regenerando, geram mais um fator de repressão para as espécies nativas (muitas delas ameaçadas de extinção), prejudicando o processo de recomposição da fauna.

Este déficit na ictiofauna das bacias hidrográficas afetadas, contabilizam um amargo prejuízo econômico a população, que antes, era subsidiada pela pesca e turismo na região, e hoje, sobrevivem, a duras penas, com um auxílio fornecido pela mineradora.

Um dos maiores desafios na reabilitação da área são a sua singularidade e magnitude. Mariana está localiza em uma região conhecida como quadrilátero ferrífero, que foi marcada historicamente pelo garimpo e mineração, e que hoje padece de novos males.  Registos médicos relacionam o aumento na incidência de alergia cutâneas e problemas respiratórios à exposição a poeira residual. Pouco se sabe sobre os efeitos que este tipo de atividade pode causar ao meio ambiente e como a possível potencialização dos poluentes pode afetar os organismos, a curto e longo prazo, dentro dos diversos níveis tróficos.

Mesmo o Brasil possuindo uma densa legislação ambiental, não conseguiu evitar o desastre e punir efetivamente os responsáveis. Resta aguardar uma proposta justa e eficaz de intervenção para a reversão do quadro social e ambiental, assim como a efetiva implantação e monitoramento do plano de recuperação das áreas.

 

Fontes:

JUNGER, L.; BONELLA, M. Lama afeta Rio Doce e os moradores dois anos após tragédia em Mariana. Jornal Hoje, 02 nov. 2017. Disponível em <http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2017/11/lama-afeta-rio-doce-e-os-moradores-dois-anos-apos-tragedia-em-mariana.html>. Acesso em 04 nov. 2017.

MOTA, C. V. Mariana, 2 anos: o trágico dilema da família que precisa escolher qual dos filhos doentes tratar. Racismo ambiental, 31 out. 2017. Disponível em: < https://racismoambiental.net.br/2017/10/31/mariana-2-anos-o-tragico-dilema-da-familia-que-precisa-escolher-qual-dos-filhos-doentes-tratar/>. Acesso em: 04 nov. 2017.