A ciência e a poesia menos romântica

Mas que coisa é essa que chamam de amor? Existe mesmo o cupido da paixão, a sorte ou mesmo a união sublime e inexplicável de almas?! Bem, a “ciência do amor” não é tão ao acaso, nem tão romântica, segundo Carmita Abdo, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Os homens devem saber que do cérebro, e só do cérebro, derivam prazer, alegria, riso e divertimento, assim como tristeza, pena, dor e medo”. Esta frase, dita por Hipócrates há milhares anos, continua certa.

Apesar da flecha do cupido acertar o coração é o cérebro que é afetado, pois reações intensas podem provir da paixão e, se durarem muito tempo, o organismo pode entrar em colapso. Suspiros, suores, olhares perdidos e todas as sensações comum àqueles que estão encantados com alguém, nascem no cérebro. São resultados de uma complexa cadeia de reações químicas do mesmo, e existem com o intuito único, proveniente de um processo evolutivo bem sucedido, de propagar a nossa espécie.

A dopamina e norepinefrina são hormônios liberados pelo cérebro que levam à alegria excessiva, e o sentimento de que o amado é único e, caso esse sentimento for correspondido, a união do casal é certa. A biologia evolutiva afirma que o vínculo criado por casais apaixonados garante a segurança da espécie. Focado na sua família, o homem gasta energia em mantê-la segura, dando oportunidade para que seus filhos cresçam e mantenham sua carga genética.

Estudos recentes, mostraram que estruturas chamadas núcleo caudado, área tegmentar ventral e córtex prefrontal, zonas ricas em dopamina e endorfina e que tem efeito semelhante ao da morfina, se mostraram mais ativadas em pessoas apaixonadas, resultando em mais e mais prazer.

Não só no prazer, mas também que contribuem com a memória para novos estímulos, assim como a noradrenalina. Falo da feniletilamina, parecida com anfetamina, que é outra molécula natural associada a essa avalanche de transformações. Por isso que muitas vezes um simples cheiro nos traz tantas recordações.

Hormônios como a oxitocina e vasopressina (responsáveis pela formação dos laços afetivos mais duradouros e intensos, como o da mãe com o filho), podem aumentar de acordo com o tempo direcionando o casal a um relacionamento estável.

Apesar da maioria das substâncias químicas apresentarem níveis mais elevados do auge da paixão, a serotonina, que tem efeito calmante, diminui em cerca de 40%. Este índice foi observado no estudo da italiana Donatella Marazziti, da Universidade de Pisa, e tal fato lhe chamou a atenção, pois o percentual da falta desse neurotransmissor dos que sofrem de transtorno obsessivo compulsivo é semelhante. Isso explicaria a insanidade e atitudes quase psicóticas que a fixação em uma única pessoa gera na fase aguda do processo “se apaixonar”.

O prazo de validade do efeito paixão é muito variado. O neurocientista Renato Sabbatini, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas, observou que o fundamental é a paixão passar naturalmente, o que acontece em alguns meses, com o cérebro descarregando menos dopamina e reduzindo as endorfinas. “No auge, as alterações químicas são tão estressantes que, se durarem tempo de mais, o organismo entra em colapso”, diz Sabbatini.

Com certeza, se apaixonar é por algo que todos deveriam passar durante suas vidas. Mas lembre-se também, quando a química demora a passar e seus efeitos prejudicam o cotidiano, acabam estressando demais o organismo. E acredite até quem usa drogas, normalmente para tratamentos cardíacos, que podem reduzir os sofrimentos da paixão, mas os efeitos são passageiros.

Texto Por: Bruno Belin dal Santos

Referências:

ROCHEDO, Aline. A química da paixão. Disponível em: <https://super.abril.com.br/comportamento/a-quimica-da-paixao/>; Acessado em: 09 de Junho de 2018.

Yarak, Aretha; Rosa, Guilherme. A química do amor. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/ciencia/a-quimica-do-amor/>; Acessado em: 09 de Junho de 2018.


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